Por Kydelmir Dantas
A ligação de LUIZ GONZAGA com o Rio Grande do Norte não vai apenas pela sua presença em shows pelo interior e em Natal; além de Cidadão Natalense ele recebeu os títulos de cidadania de várias outras cidades no estado, como: Mossoró, Caraúbas, Pau dos Ferros, Caicó…
O interessante é que pouca gente sabe que “a sua primeira biografia” foi escrita pelo poeta potiguar Zé Praxédi – O Poeta Vaqueiro – em 1952, editado pela Continental Artes Gráficas, de São Paulo – SP, tendo o prefácio do folclorista Luis da Câmara Cascudo, apresentação de Sábato Magaldi e com o apoio do, então, Vice-Presidente da República, João Café Filho, sob o título de “LUIZ GONZAGA E OUTRAS POESIAS.”
O livro compõe-se de vários poemas, dentre eles, o principal, sob o título LUIZ GONZAGA. Neste, o poeta levou a sua mensagem na escrita do dizer do povo do interior, semi-alfabetizado e/ou analfabeto, na linguagem que se denominou de “poesia matuta”. Muita gente boa coloca estes versos, em publicações diversas, como sendo da autoria do Mestre Lua. Mas não! Os versos são de Zé Praxédi… A verdade é pra ser dita!
Estão lá, nos primeiros versos e na grafia original, num total de 128 estrofes, ora em quadras, ora em sextilhas, na conformidade e gosto do poeta potiguar.
Não sei se sou, fraco ou forte,
Só sei que graças a Deus,
Té pra nascer tive sorte,
Apôs nasci em Pernambuco
Fanmoso Leão do Norte.
Nas terras de Novo Exu,
Da fasenda Caiçara,
Im novecentos e dôse,
Viu o mundo a minha cara.
Dia de Santa Luzia,
Purisso é qui sô Luiz,
No mêz qui Cristo nasceu,
Purisso qui sô feliz.”
A respeito do poeta e sua obra, quando da apresentação de um Recital no Teatro Copacabana, com a presença do próprio Luiz Gonzaga, o crítico Sabato Magaldi escreveu no Diário Carioca: Utilizando forma popular, com temas próprios da vida nordestina, o poeta interessou à platéia pela simplicidade espontânea de seus versos. Será certamente incorporada as curiosidades, para enriquecimento de nosso folclore, a poesia de Zé Praxédi.”
Após este recital, veio o livro… A primeira biografia oficial. Depois, vieram outros, ficando mais conhecido o escrito pelo jornalista cearense SINVAL SÁ, que recebeu o título de O SANFONEIRO DO RIACHO DA BRÍGIDA; este teve 4 edições só no ano do seu lançamento, 1966, mudando apenas as cores das capas e permanecendo o desenho. Hoje já se encontra a 8ª edição nas livrarias. Para mim um dos mais importantes.
A partir de então, saíram vários livros sobre Luiz Gonzaga do Nascimento, o segundo filho de Januário José dos Santos (Mestre Januário e Ana Batista de Jesus (Santana), os quais listamos os que, particularmente, mais ‘apreceio’: Eu Vou contar pra Vocês – Assis Ângelo – Ed. Ícone, 1990, o primeiro a ser publicado após a grande viagem do Rei; Luiz Gonzaga, o Matuto que Conquistou o Mundo – Gíldson de Oliveira – Ed. Comunicarte, Recife – 4ª edição – 1993, o jornalista potiguar, radicado em Recife, juntou reportagens e entrevistas com Gonzagão, nos últimos meses de vida. Este livro ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo em 1990; A Vida do Viajante – A Saga de Luiz Gonzaga – Dominique Dreyfus. Editora 34, São Paulo, 1996, a francesa fez o que é considerada a biografia mais completa, até o momento, do Rei do Baião; Luiz Gonzaga: A Síntese Poética e Musical do Sertão – Elba Braga Ramalho. Terceira Margem. São Paulo. 2000, a Professora e Doutora da UECE, pegou sua Tese de Doutorado, realizado na Inglaterra e transformou num belo livro.
Câmara Cascudo, em uma Acta Diurna, para o Diário de Natal, escreveu: Acho muita graça quando anunciam Zé Praxédi aos microfones das estações rádio-emissoras que é um folclorista. Não é folclorista. É o próprio Folk Lore.
Isto eu assino, em cima e em baixo, concordando com Magaldi e Cascudo.
(*) Pesquisador, poeta e cordelista. De Nova Floresta – PB, radicado em Mossoró – RN.