Luiz LUA Gonzaga

Apologia Ao Jumento

APOLOGIA AO JUMENTO (O Jumento é Nosso Irmão)

(Luiz Gonzaga – José Clementino)

É verdade, meu senhor,
Essa história do sertão.
Padre Vieira falou.. ô, ô…
Que o jumento é nosso irmão.

Ão, ão, ão.

 

PROSA

O jumento é nosso irmão, quer queiram quer não.

O jumento sempre foi o maior desenvolvimentista do Sertão.

Ajudou o homem na lida diária,

Ajudou o homem, ajudou o Brasil a se desenvolver.

Arrastou lenha, madeira. Pedra, cal, cimento, tijolo.

Telha… Fez açude, estrada de rodagem.

Carregou água pra casa do homem.

Fez a feira e serviu de montaria!

O jumento é nosso irmão.

 

E o homem!

Em retribuição. O que é que lhe dá?

Castigo! Pancada! Pau nas pernas! Pau no lombo, pau no pescoço!

Pau na cara, nas orelhas!

Ah! Jumento é bom, o homem é mau.

E quando o pobre não aguenta mais o peso de uma carga,

E quando o pobre não aguenta mais o peso de uma carga, que se deita no chão.

Você pensa que o homem chega, ajuda o bichinho a se levantar?

Hum! Pois, sim! Faz é um foguinho debaixo do rabo dele!

O Jumento é bom… O Jumento é Sagrado.

O homem é mau.

O homem só presta pra botar apelido no Jumento!

O pobrezinho tem apelido que não acaba mais!

Babau, gangão, breguesso, fofa-chão, imagem do cão.

Musgueiro, corneteiro, seresteiro, sineiro, relógio.

Ééé´! Ele dá a hora certa no Sertão.

Tudo isso é apelido que o Jumento tem.

Astronauta, professor, estudante… Advogado das bestas.

Ah! É chamado de estudante, porque quando o estudante não sabe a lição na Escola, o professor grita logo: – Você não sabe, porque você é um Jumento!

E o estudante pra se vingar botou o apelido no jumento de professor…

Porque o Professor ensina a ler de graça!

Pois, sim! Quem ensina a ler de graça é o Jumento. ‘mô fíi”!

É assim: A, E , I , O, U, UPissilone… Pissilone… Pissilone… Pissilone… Pissilone…  Pissilone…

Só não aprende a ler quem não quer!

 

Esse é o Jumento nosso irmão.

Animal Sagrado… Serviu de transporte a “Nos’Sinhô” quando ele ia para o Egito…

Quando “Nos’Sinhô”  era ‘pirritotinho’!

Todo Jumento tem uma cruz nas costas, não tem?

Pode olhar que tem!

Todo Jumento tem uma cruz nas costas…

Foi ali que o Menino Santo fez o ‘pipizinho’!

Por isso ele é chamado de Sagrado!!!

Haha! Jumento meu irmão… O maior amigo do Sertão.

Ele é ‘chei’ de presepada, sim sinhô!

Uma vez ele me fez uma, menino! Qu’eu num me esqueci mais…

Quando dá as primeiras chuvas no Sertão, a gente planta logo um ‘milhuzin’ no munturo da casa da gente… Porque dá ligeiro é milho doce!

Dá ligeirinho, ligeirinho…

Jumento cismou de ser meu sócio. Eu disse: – Eu pego ele!

Quando ele invadiu minha roça… Eh! Eu preparei uma armadilha…

Cheguei perto dele e disse: – Comendo meu ‘míi’, heim! Vô lhe pegar!

Ele balançou a cabeça, ligou as antenas. ‘Troceu’ o rabou… ‘troceu’… ‘troceu’… ‘troceu’… Deu, quase disparou!

Deu um pulo tão danado na cerca, que nem triscou na minha armadilha.

Correu uns dez metros, fez meia volta, olhou pra mim e me gozou:

“Seu Luíiiiz… Seu Luiz… Comi seu ‘míi’… E como… E como… E como… E como…

Fíi da peste… Comeu ‘mermo’!

Mas eu gosto dele… Porque ele ‘servidorzin’ que é danado!

Animal Sagrado… Jumento meu irmão… Eu reconheço teu valor!

Tu és um patriota! Tu és um grande brasileiro!

Eu tô aqui Jumento! Pra reconhecer o teu valor, meu irmão!

 

Agora, meu patriota,
Em nome do meu sertão,
Acompanhe o seu vigário,
Nessa eterna gratidão.
Aceita nossa homenagem,
Ao jumento, nosso irmão.

Ão, ão, ão… Ão, ão, ão.

Uh! Hu!

Segure o jegue, nêgo mole!!!

 

 

Transcrição:
Kydelmir Dantas