David Moraes
Fortaleza-CE
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Tenho me deparado com situações um tanto quanto intrigantes, do tipo que nos faz pensar um pouco. Outro dia, tive a oportunidade de presenciar a conversa de dois mestres da sanfona. Na ocasião, não sei se eram eles (os sanfoneiros), que conversavam ou se eram elas; as damas de preto, de branco, ou de vermelho, não importa. O que importa, é que quando elas conseguem soltar a sua voz, todos entendem rapidamente. Todo esplendor e maestria lhes são destinadas. Lembranças eram mensuradas por eles e abrilhantadas por elas e até parecia que queriam falar.
Um dos músicos falava de uma composição de Gonzaguinha, que tinha a corruptela de “Espelho das Águas do Itamaragí”, e que ele (sanfoneiro) iria fazer o arranjo da música. Percebíamos durante sua fala a presença de bastante emoção, que comove quem escuta. O relato do sanfoneiro era a respeito de um comentário que ele havia proferido para Gonzaguinha no ato da criação da composição: “Tu sabe que o povo não vai entender isso!” O compositor mergulhou seu olhar no olhar dele e com toda confiança, franqueza e firmeza respondeu: “O povo tem que pensar.” Quando escutei aquilo, parei e pensei um pouco. Vi quanta riqueza e preocupação tinha aquele homem com o jeito de pensar das pessoas.
Consequentemente lembrei-me de uma citação de Sócrates que diz: “A vida que não é examinada não vale a pena ser vivida”. Quanta genialidade teve Gonzaguinha, até parece que sua sabedoria fora herdada geneticamente e foi sim; não podemos evitar esta idéia inevitável. Estamos falando do filho daquele que revolucionou a música popular brasileira, Luiz Gonzaga; rei do baião.
Luiz Gonzaga Júnior, o Gonzaguinha; nasceu em 1945 na cidade do Rio de Janeiro. Teve toda sua adolescência longe do pai, em virtude das muitas viagens de seu Luiz mundo a fora, com seus shows. Essa distância criou um clima de insatisfação do filho, mas não o impediu de ser um homem também da música, um artista completo e o que é melhor: sem precisar ser regrado por seu pai. Portanto, isso era algo natural.
Gonzaguinha soube pensar no seu tempo, melhor dizendo; ele foi além do seu tempo. “O boca negra”, (Gonzaguinha assim intitulado por seus amigos compositores), fora idealizador de um estilo musical despojado, que se preocupava com o que o povo pensava. Fazia de sua música um instrumento de construção do saber e de acalento para os corações.
Fico pensando, quantos “Gonzaguinhas, Renatos Russos, Cazuzas, Tim Maias”, poderíamos ter hoje, se simplesmente parássemos só um pouco e pensássemos como estamos levando a vida. Se não praticarmos tal exame, perderemos a oportunidade de sair da mediocridade. Mas, se o realizarmos cautelosamente, teremos a probabilidade bem maior de garantir uma vida mais ordenada e harmoniosa e sem sombra de dúvida podendo afirmar que “Começaríamos tudo outra vez se preciso fosse meu amor”.
Portanto meus caros leitores, pensem um pouco mais. Pensem na construção de um amanhã melhor. Pensem que o agora é a chave que nos possibilita esse novo amanhã. E, se for pensar no que passou, que seja só nos momentos bons. Se fizermos desta maneira, com certeza poderemos todos cantar num coro só “Viver e não ter a vergonha de ser feliz, cantar e cantar e cantar a beleza de ser um eterno aprendiz”. Só para lembrar, os dois sanfoneiros eram Waldonys e Joquinha Gonzaga que é sobrinho de Luiz Gonzaga e obviamente primo de Gonzaguinha. Este último gravou a música que infelizmente não pôde ser apreciada por seu criador.