Luiz LUA Gonzaga

Quem paga o arrasta-pé?

Jornal O Povo – Fortaleza 25/04/2011

Junho ainda nem bem se anuncia e a polêmica já corre solta no roteiro do São João nordestino. Na Paraíba, o cantor e compositor Chico César, titular da Secretaria da Cultura, soltou o verbo e disse que não gasta dinheiro público com o que chama de ”forró de plástico”. A polêmica respingou no Ceará

Na semana passada, o cantor, compositor e secretário da Cultura da Paraíba, Chico César, entrou para a lista dos assuntos mais comentados das redes sociais. Com a aproximação das festas juninas, uma das mais disputadas do seu Estado, ele declarou em nota que não iria contratar “bandas de forró de plástico e grupos sertanejos” para as comemorações.

“O Estado encontra-se falto de recursos e já terá inegáveis dificuldades para pactuar inclusive com aqueles municípios que buscarem o resgate desta tradição”, explicou. Alegando também questões como poluição sonora, alto custo das apresentações e irregularidades nas prestações de contas por parte das administradoras, Chico complementou que “nunca nos passou pela cabeça proibir ou sugerir a proibição de quaisquer tendências. Quem quiser tê-los que os pague”, disse.

O quêEm declaração sobre os festejos juninos, o cantor e secretário de Cultura da Paraíba, Chico César, afirmou, causando polêmica, que não iria contratar bandas destoassem da herança musical nordestina, o que chamou de “forró de plástico”.

Chico César citou ainda, como exemplo da falta de respeito à tradição da música nordestina, uma apresentação onde o músico Sivuca foi hostilizado pelo público. “Ele, já velhinho, tocava sanfona em vez de teclado e não tinha moças seminuas dançando em seu palco. Vaias também recebeu Geraldo Azevedo porque ele cantava Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro em festa junina financiada pelo Governo aqui na Paraíba, enquanto o público, esperando a dupla sertaneja, gritava ‘Zezé, cadê você? Eu vim aqui só pra te ver’”, desabafou. Apesar de algumas acusações de preconceito a um estilo musical, Chico acabou recebendo muitas palavras de apoio, inclusive do próprio governador paraibano Ricardo Coutinho (PSB) e da primeira dama Pámela Bório.

No Ceará

No Ceará, onde as festas juninas também geram expectativa no público, o assunto despertou polêmica. “Eu queria saber se ele sabe o que é plástico?”, rebateu o cantor e compositor Dorgival Dantas. Incomodado com as palavras de Chico César, ele preferiu sair em defesa dos artistas. “Inventaram esses apelidos de forró pé-de-serra, forró autêntico. Se não quer convidar uma pessoa para tocar, chama ela de lado e diga que não vai chamar. Pode ter certeza que os músicos que mais sofrem são os que aprenderam a tocar simples. Você conhece alguém que tenha tocado mais simples que Luiz Gonzaga?”, questiona ele, que taxou a atitude do paraibano de “safadeza, falta de atitude, covardia e besteira”.

 

Já o presidente da Associação Cearense do Forró e proprietário da casa de shows Kukukaya, Walter Medeiros, discorda. “Não é papel do Estado financiar a desconstrução da cultura popular. E o maior financiador destas bandas de plástico é o Governo do Estado do Ceará”. Para ele, o Estado “desconstrói o que tenta construir” quando contrata “bandas que incentivam o machismo, a bebedeira e a prostituição infantil. “Eles inauguram espaços públicos com uma banda que chama as meninas de rapariga. Não entendo porque, até hoje, o movimento de mulheres não se manifestou”.

Waldonys segue nesta linha. “Eu acho que ele (Chico César) está cobertíssimo de razão. As pessoas que fazem música mais voltada para a cultura são sempre colocadas mais de lado”. Embora afirme que já adquiriu um respeito do público, o músico lamenta o pouco cuidado que existe por parte do poder público à cultura local. “O Férias no Ceará é um projeto maravilhoso que traz muita gente boa, mas deveria também dar mais notoriedade ao pessoal daqui, fazer um negócio mais eclético. Até porque as pessoas de fora querem ver a produção local. Tem muita gente boa aqui e as pessoas não conseguem enxergar. Mas, dizem que santo de casa não obra milagre”. Para ele, inclusive, a falta de espaço acaba por inibir novos talentos. “É uma coisa de mercado fechado. Tem uma coisa muito suja e eu fico assistindo de camarote porque já tenho um respeito. Mas, para as pessoas que estão começando, é muito mais difícil e não partir para o comercialzão”, diz.


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Marcos Sampaio
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